segunda-feira, 23 de maio de 2011

Desenvolvimento Moral – Lawrence Kohlberg

Lawrence Kohlberg dedica-se a estudar o desenvolvimento moral do ser humano, retomando e aperfeiçoando o modelo piagetiano. Realizou estudos longitudinais nos Estados Unidos acerca do tema, utilizando-se de dilemas morais1, aos quais expunha indivíduos que entrevistava utilizando-se do método clínico, como Piaget, em suas pesquisas. Apresentava tais dilemas e pedia aos sujeitos que apontassem soluções aos mesmos sempre justificando seus dizeres. A seguir, analisava e categorizava as informações que obtinha considerando as justificativas, o valor moral intrínseco e os argumentos apresentados pelo sujeito participante da entrevista, detectando em qual nível a pessoa se encontra. Através do diagnóstico, propõe maneiras de intervir no intuito de fazer com que as pessoas caminhem de um nível de moralidade a outro subsequente.
Kohlberg criou diversos dilemas a fim de explorar o raciocínio da criança a respeito de um problema moral difícil, como o valor da vida humana ou as razões para fazer coisas “certas”, sendo um de seus mais famosos, o chamado “O Dilema de Heinz”. 

Dilema de Heinz: Na Europa, uma mulher estava quase à morte, com um tipo específico de câncer. Havia um remédio que os médicos achavam que poderia salvá-la. Era uma forma de rádio que um farmacêutico da mesma cidade havia descoberto recentemente. O remédio era caro para se fazer e o farmacêutico estava cobrando dez vezes mais do que ele lhe custava na fabricação. Ele pagava 200 dólares pelo rádio e cobrava 2000 dólares por uma pequena dose do remédio. O marido da mulher doente, Heinz, procurou todo mundo que ele conhecia para pedir dinheiro emprestado, mas só conseguiu aproximadamente 1000 dólares, a metade do preço do remédio. Ele disse ao farmacêutico que sua mulher estava morrendo e pediu-lhe para vender o remédio mais barato ou deixá-lo pagar o restante depois. Mas o farmacêutico disse: “Não, eu descobri o remédio e vou ganhar muito dinheiro com ele”. Então Heinz ficou desesperado e assaltou a farmácia para roubar o remédio para sua mulher.

O autor afirma que as pessoas podem defender a mesma ação por razões muito diferentes, que representam distintos estágios do raciocínio. Kohlberg baseou toda a sua teoria nesse pensamento de autonomia, para a formação de indivíduos verdadeiramente conscientes e comprometidos com pensamentos e atitudes morais. A teoria sustenta que o raciocínio moral, a base para a ética do comportamento, tem seis identificação dos estágios de desenvolvimento. Considera que o desenvolvimento moral se desenrola em seis estágios independentemente da cultura, grupo social ou país. Cada estágio apresenta características próprias, estando relacionado com a idade e representando um sistema de organização mais compreensivo e qualitativamente diferente do estágio anterior, são eles:

Nível I - Pré-convencional ou Pré-Moral (de 2 a aproximadamente 6 anos)
Nível pré-convencional corresponde, em termos gerais, à moralidade heterônoma estudada por Piaget. Neste nível, a criança interpreta as questões de certo e errado, bom e mau. Reduz-se a um conjunto de normas externas, a que se obedece para evitar o castigo, a punição, ou para satisfazer desejos e interesses estritamente individualistas.

Ø        Estágio 1 - Orientação para a punição e a obediência
a) Orientação Moral: Para a punição e a obediência
b) Justificativa dos julgamentos: Evitar o castigo e o exercício do poder superior que
as autoridades têm sobre o indivíduo
c) Perspectiva sócio-moral: Não distingue nem coordena perspectivas. Apenas existe uma perspectiva correta, a da autoridade.
Ø        
        Estágio 2 - Hedonismo Instrumental Relativista
a) Orientação Moral: Orientação calculista e instrumental; pura troca; hedonismo e
pragmatismo
b) Justificativa dos julgamentos: Servir a necessidades e interesses próprios em um
mundo em que há outras pessoas com seus interesses
c) Perspectiva sócio-moral: Distingue perspectivas, coordena-as e hierarquiza-as do
ponto de vista dos interesses individuais

Nível II - Convencional (idade escolar)
O nível convencional se define pela conformidade às normas sociais e morais vigentes. Procura-se viver conforme as regras estabelecidas, com o que é socialmente aceito e compartilhado pela maioria, respeitando a ordem estabelecida. Portanto, há uma tendência a agir de modo a ser bem visto aos olhos dos outros, para merecer estima, respeito e consideração.
Ø         
        Estágio 3: Moralidade do bom garoto, da aprovação social e das relações interpessoais
a) Orientação Moral: Orientação para o bom menino e para uma moralidade de
aprovação social e interpessoal
b) Justificativa dos argumentos: Precisa corresponder às expectativas alheias. Tem
necessidade de ser bom e correto a seus olhos e aos olhos dos outros ( família, amigos...); importa-se com os outros: se trocasse de papel iria querer um bom comportamento de si próprio. Este é o estágio da regra de ouro: “aja com os outros como gostaria que eles agissem com você”
c) Perspectiva sócio moral: do indivíduo em relação aos outros indivíduos.

Ø        Estágio 4: Orientação para a lei e a ordem, autoridade mantendo a moralidade
a) Orientação Moral: Orientação para a manutenção da lei, da ordem e do progresso
social
b) Justificativa dos argumentos: Manter o funcionamento das instituições como um
todo, auto respeito ou consciência compreendida como cumprimento de obrigações definidas para si próprio ou consideração das consequências dos atos. Pergunta-se: “o que acontecerá se todos fizerem o mesmo?”
c) Perspectiva sócio moral: Distingue perspectivas, coordena-as e hierarquiza-as do
ponto de vista de uma terceira pessoa imparcial, institucional e legal.

Nível III- Pós-convencional (adolescência)
Valor moral das ações não está na conformidade às normas e padrões morais e
sociais vigentes; está vinculado aos princípios éticos universais, tais como o direito à vida, à liberdade e à justiça. Portanto, as normas sociais são entendidas na sua relatividade, cuja finalidade é garantir que estes princípios sejam respeitados. Caso isto não aconteça, as leis devem ser transformadas e até desobedecidas. Neste nível, a sociedade não teria sentido se não estivesse a serviço desses direitos individuais fundamentais, que sejam universalizáveis, reversíveis e prescritivos.

Ø        Estágio 5: A orientação para o contrato social democrático
a) Orientação Moral: Orientação para o contrato social, para o relativismo da lei e
para o maior bem para o maior número.
b) Justificativa da argumentação: Obrigação de cumprir a lei em função de um
contrato social: protege seus direitos e os dos outros. Leis e deveres são baseados em cálculo do maior bem para o maior número de pessoas (critério da utilidade)
c) Perspectiva sócio-moral: Distingue perspectivas, coordena-as e começa a hierarquizá-las do ponto de vista de uma terceira pessoa moral, racional e universal.

Ø        Estágio 6: Princípios universais de consciência
a) Orientação Moral: Orientação para os princípios éticos-universais, prescritivos, auto-escolhidos, e generalizáveis.
b) Justificativa da argumentação: Como ser racional, percebe a validade dos
princípios e compromete-se com eles.
c) Perspectiva sócio-moral: Distingue perspectivas, coordena-as de um ponto de
vista ideal e hierarquiza-as segundo uma perspectiva moral, racional e universal.

Fonte:
ESPÍNDOLA,  M. Z. B.; LYRA, V. B. O desenvolvimento moral em Lawrence Kohlberg. 
Lawrence Kohlberg. In Infopédia. Porto: Porto Editora, 2003-2011. 


Um vídeo que ilustra a teoria de Kohlberg:



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